Nada é para Sempre
Não é uma questão de crença
fatalística, nem se trata de acreditar no fim da era do calendário maia ou no
apocalipse. Mas sim, de entender o que o conhecimento científico nos revela.
Somos naturalmente céticos e temos
resistência aos novos conhecimentos que põem em cheque nossa cultura e nossas
convicções. Isso aconteceu quando o geocentrismo – teoria que diz que a Terra está
parada no centro do universo e o Sol e os outros astros giram em torno dela –
foi contestado por Nicolau Copérnico (1473-1543 d. C.), que disse que a Terra é
que girava em torno do Sol, e não o contrário, propondo então a teoria do
heliocentrismo, que afirma que o Sol é o centro do universo. Essa teoria já
havia sido criada pelo astrônomo grego Aristarco de Samos (310-230 a.C.). E na
época de Copérnico não foi aceita prontamente pela comunidade científica e
filosófica, muito menos pela sociedade. E somente ao longo dos séculos XVIII e
XIX é que a mudança do status do Sol como centro do universo para apenas uma
estrela entre muitas se tornou cada vez mais óbvio e aceito. Porém, a teoria do
universo infinito, onde existe uma infinidade de estrelas e planetas já havia
sido defendida pelo filósofo e místico Giordano Bruno (1548-1600 d.C.).
Assim, as grandes descobertas que
conduzem a mudanças na forma da humanidade ver a realidade são processos
complicados e demorados. Porém, na antiguidade a estrutura e funcionamento da sociedade
não eram drasticamente afetados por estas descobertas, nem tampouco dependiam
dessas descobertas para garantir a sustentabilidade da sociedade.
Mesmo demoradas e mesmo quando
envolvem algo que nos afeta diretamente, só passamos a aceitar a mudança quando
sentimos na pele. Assim vem sendo durante toda a história, em todos os momentos
em que a ciência nos alertou de algo. Por exemplo, o DDT foi sintetizado pela
primeira vez em 1874 por Othmar Zeildler. Em 1939 as propriedades inseticidas do
DDT foram descobertas pelo suíço Paul Hermann Müller da Geigy Pharmaceutical. Paul
Müller recebeu em 1948 o prêmio Nobel da medicina, por descobrir a eficácia do
DDT como veneno de contacto contra vários tipos de artrópodes, que foi
prontamente utilizado na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Após a guerra, foi
usada intensamente na agricultura e mais tarde contra a malária. Somente na
década de 1960 passaram a ser levantadas questões importantes sobre os efeitos
colaterais do DDT para a saúde humana e para a natureza. Muitos desses efeitos,
como doenças graves (malformações, cancro, morte massiva de aves e peixes),
foram denunciados na obra “Primavera Silenciosa” (Silent Spring), de Rachel Carson e publicado em 1962. E só em 1970
é que o DDT foi proibido primeiramente na Noruega e a Suécia, em 1972 nos
Estados Unidos, e posteriormente em outros países, sendo substituídos por
outros pesticidas. Assim se passou aproximadamente 1 século desde o
desenvolvimento da tecnologia até a percepção de seus efeitos ruins e posterior
banimento da mesma. E isso só aconteceu a custo de terríveis impactos para o
ser humano e para a natureza. O mesmo acontece com outras tecnologias
desenvolvidas pelo homem.
Só que agora vivemos num momento
histórico em que não podemos esperar para ver no que vai dar. Dessa percepção
surgiu o “princípio da precaução”, já documentado na Agenda 21, na ECO-92. E
essa é a questão chave sobre o uso da energia.
Uma das principais fontes de
energia é o petróleo. Seu uso remonta possivelmente a 4.000 a.C. no Oriente
Médio, onde o betume era utilizado para pavimentação de estradas, calafetação
de grandes construções, aquecimento e iluminação de casas, bem como
lubrificantes e até como laxativo. Quando Marco Polo (1254-1324 d.C.) viajou ao
norte da Pérsia, observou por lá o uso do petróleo para fins bélicos e de
iluminação e sua produção em escala comercial (para os padrões da época) em Baku,
no Azerbaijão. Somente no séc. XIX começa a surgir a moderna indústria do
petróleo, tendo como marco histórico o ano de 1859, na esteira de Revolução
industrial (séc. XVIII-XIX), quando o norte-americano Edwin Laurentine Drake
perfurou o primeiro poço nos Estados Unidos (a uma profundidade de 21 metros),
no estado da Pensilvânia. O poço revelou-se produtor. A produção de óleo cru
nos Estados Unidos, desde então, aumentou de dois mil barris em 1859 para
aproximadamente três milhões em 1863, e para dez milhões de barris em 1874.
Contudo, só nas últimas décadas
do século passada começamos a nos alertar para os impactos do petróleo, e muito
recentemente percebemos que as fontes desse recurso podem virtualmente esgotar.
Assim, teremos que lidar num futuro próximo com os efeitos acumulados de
séculos de poluição e com limitações energéticas. A não ser que façamos valer o
“princípio de precaução” e começamos a prevenir em vez de remediar, após sentir
na pele os efeitos, esse é o quadro provável.
Para quem está por dentro, não é
necessário tecer detalhadamente os argumentos do que escrevi acima. Para quem
não está por dentro, seja por não ser especialista ou por falta de acesso à
informação, o vídeo deste post — No Hay Mañana (ver em 'Referências') — traz
um bom resumo do cenário que se desenha para a “Era do Petróleo”. Está em
inglês com legenda em espanhol, mas vale a pena, pois coloca em perspectiva um
tema difícil de abarcar.
Leon Maximiliano Rodrigues
Referências
DDT. Toxicologia
Mecanística. Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Disponível em:
Acessado em: 28/10/2012.
Wikipédia.
Petróleo. Disponível em: Acessado
em: 28/10/2012.
Petróleo e seus
efeitos no meio ambiente. Biodieselbr.com (2005). Disponível em:
Acessado em: 28/10/2012.
No Hay Mañana.
Vimeo. Disponível em: < http://vimeo.com/40900783 > Acessado em:
28/10/2012.