28 de out. de 2012

Nada é para Sempre



Nada é para Sempre

 
Não é uma questão de crença fatalística, nem se trata de acreditar no fim da era do calendário maia ou no apocalipse. Mas sim, de entender o que o conhecimento científico nos revela.
Somos naturalmente céticos e temos resistência aos novos conhecimentos que põem em cheque nossa cultura e nossas convicções. Isso aconteceu quando o geocentrismo – teoria que diz que a Terra está parada no centro do universo e o Sol e os outros astros giram em torno dela – foi contestado por Nicolau Copérnico (1473-1543 d. C.), que disse que a Terra é que girava em torno do Sol, e não o contrário, propondo então a teoria do heliocentrismo, que afirma que o Sol é o centro do universo. Essa teoria já havia sido criada pelo astrônomo grego Aristarco de Samos (310-230 a.C.). E na época de Copérnico não foi aceita prontamente pela comunidade científica e filosófica, muito menos pela sociedade. E somente ao longo dos séculos XVIII e XIX é que a mudança do status do Sol como centro do universo para apenas uma estrela entre muitas se tornou cada vez mais óbvio e aceito. Porém, a teoria do universo infinito, onde existe uma infinidade de estrelas e planetas já havia sido defendida pelo filósofo e místico Giordano Bruno (1548-1600 d.C.).
Assim, as grandes descobertas que conduzem a mudanças na forma da humanidade ver a realidade são processos complicados e demorados. Porém, na antiguidade a estrutura e funcionamento da sociedade não eram drasticamente afetados por estas descobertas, nem tampouco dependiam dessas descobertas para garantir a sustentabilidade da sociedade.
Mesmo demoradas e mesmo quando envolvem algo que nos afeta diretamente, só passamos a aceitar a mudança quando sentimos na pele. Assim vem sendo durante toda a história, em todos os momentos em que a ciência nos alertou de algo. Por exemplo, o DDT foi sintetizado pela primeira vez em 1874 por Othmar Zeildler. Em 1939 as propriedades inseticidas do DDT foram descobertas pelo suíço Paul Hermann Müller da Geigy Pharmaceutical. Paul Müller recebeu em 1948 o prêmio Nobel da medicina, por descobrir a eficácia do DDT como veneno de contacto contra vários tipos de artrópodes, que foi prontamente utilizado na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Após a guerra, foi usada intensamente na agricultura e mais tarde contra a malária. Somente na década de 1960 passaram a ser levantadas questões importantes sobre os efeitos colaterais do DDT para a saúde humana e para a natureza. Muitos desses efeitos, como doenças graves (malformações, cancro, morte massiva de aves e peixes), foram denunciados na obra “Primavera Silenciosa” (Silent Spring), de Rachel Carson e publicado em 1962. E só em 1970 é que o DDT foi proibido primeiramente na Noruega e a Suécia, em 1972 nos Estados Unidos, e posteriormente em outros países, sendo substituídos por outros pesticidas. Assim se passou aproximadamente 1 século desde o desenvolvimento da tecnologia até a percepção de seus efeitos ruins e posterior banimento da mesma. E isso só aconteceu a custo de terríveis impactos para o ser humano e para a natureza. O mesmo acontece com outras tecnologias desenvolvidas pelo homem.
Só que agora vivemos num momento histórico em que não podemos esperar para ver no que vai dar. Dessa percepção surgiu o “princípio da precaução”, já documentado na Agenda 21, na ECO-92. E essa é a questão chave sobre o uso da energia.
Uma das principais fontes de energia é o petróleo. Seu uso remonta possivelmente a 4.000 a.C. no Oriente Médio, onde o betume era utilizado para pavimentação de estradas, calafetação de grandes construções, aquecimento e iluminação de casas, bem como lubrificantes e até como laxativo. Quando Marco Polo (1254-1324 d.C.) viajou ao norte da Pérsia, observou por lá o uso do petróleo para fins bélicos e de iluminação e sua produção em escala comercial (para os padrões da época) em Baku, no Azerbaijão. Somente no séc. XIX começa a surgir a moderna indústria do petróleo, tendo como marco histórico o ano de 1859, na esteira de Revolução industrial (séc. XVIII-XIX), quando o norte-americano Edwin Laurentine Drake perfurou o primeiro poço nos Estados Unidos (a uma profundidade de 21 metros), no estado da Pensilvânia. O poço revelou-se produtor. A produção de óleo cru nos Estados Unidos, desde então, aumentou de dois mil barris em 1859 para aproximadamente três milhões em 1863, e para dez milhões de barris em 1874.
Contudo, só nas últimas décadas do século passada começamos a nos alertar para os impactos do petróleo, e muito recentemente percebemos que as fontes desse recurso podem virtualmente esgotar. Assim, teremos que lidar num futuro próximo com os efeitos acumulados de séculos de poluição e com limitações energéticas. A não ser que façamos valer o “princípio de precaução” e começamos a prevenir em vez de remediar, após sentir na pele os efeitos, esse é o quadro provável.
Para quem está por dentro, não é necessário tecer detalhadamente os argumentos do que escrevi acima. Para quem não está por dentro, seja por não ser especialista ou por falta de acesso à informação, o vídeo deste post No Hay Mañana (ver em 'Referências') traz um bom resumo do cenário que se desenha para a “Era do Petróleo”. Está em inglês com legenda em espanhol, mas vale a pena, pois coloca em perspectiva um tema difícil de abarcar.
 Leon Maximiliano Rodrigues
Referências

DDT. Toxicologia Mecanística. Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Disponível em: Acessado em: 28/10/2012.
Wikipédia. Petróleo. Disponível em: Acessado em: 28/10/2012.
Petróleo e seus efeitos no meio ambiente. Biodieselbr.com (2005). Disponível em: Acessado em: 28/10/2012.
No Hay Mañana. Vimeo. Disponível em: < http://vimeo.com/40900783 > Acessado em: 28/10/2012.