Não
é possível crescer indefinidamente. Nenhum modelo teórico ou base
de dados sustenta a ideia de um crescimento permanente e eterno.
Qualquer sistema tem uma capacidade suporte limitada no tempo e no
espaço. A Terra e a sociedade estão inclusas neste raciocínio. Por
isso, é chocante perceber que as grandes autoridades do mundo ainda
acreditam no “crescimento” como sinônimo de “desenvolvimento”.
E que isso deve ser buscado permanentemente a qualquer custo.
Trata-se virtualmente de um dogma religioso da sociedade atual.
A
busca cega pelo crescimento permanente — da economia, do consumo,
da produção, etc. — só leva a um prognóstico bastante óbvio:
colapso. Não me surpreenderia se fosse descoberto, daqui a alguns
anos ou décadas, que a crise mundial pela qual estamos passando é
resultado da busca descontrolada da sociedade pelo crescimento
permanente, e que esse talvez tenha sido um dos maiores erros de
nossa época.
Não
é mais possível negar que, independentemente de regime de governo,
tendência política e medidas econômicas, o mundo inteiro avança
cada vez mais numa crise sem precedentes. Não trata-se mais da crise
do país X ou Y, do governo A ou B. A crise é mundial, é do próprio
mercado global. As nações tem seus altos e baixos, mas em média a
crise se agrava.
O
aumento do consumo das famílias e da qualidade de vida no Brasil nas
duas últimas décadas pode ser atribuído a um redirecionamento da
economia para as classes mais baixas. Isso, associado ao nosso vasto
território privilegiado em termos de recursos, certamente levou ao
crescimento econômico e social. Mas isso tem um custo. Nossos
recursos naturais estão diminuindo: florestas, fertilidade do solos,
minerais, petróleo, etc. Nossa posição vantajosa em relação aos
recursos naturais permite uma sobrevida durante a crise. Mas, cedo ou
tarde a natureza dará seus avisos de que estamos nos aproximando de
um limite crítico. Por outro lado, os limites do manejo econômico
já são sentidos, como mostram algumas matérias. Já se fala em
recessão no Brasil (1), e a indústria nacional parece dar sinais de
arrefecimento (2;3).
Ao
vasculhar recentemente as notícias dispersas na internet sobre
diferentes temas da atualidade, incluindo as já citadas, fica claro,
para os mais atentos, os sinais de que o sistema (o planeta e a
sociedade) ajustam-se a esse cenário. Porém, tratam-se de
informações dispersas em notícias de diferentes áreas,
aparentemente não relacionadas. Tais informações incluem desde o
consumo das famílias à opinião de importantes cientistas.
Por
exemplo, lá no outro lado do mundo, a China se estabeleceu como a
grande potência econômica atual. Mas, seu poder não é infinito. É
sim delimitado pela disponibilidade de recursos (naturais) — o
espaço talvez seja um fator importante — para serem explorados e
transformados em riquezas. Porém, tais recursos vem de um planeta
com reservas limitadas e sendo explorado por muitos outros países
também bem povoados.
Num
país superpopuloso, com uma sociedade altamente consumista — assim
como o planeta como um todo —, a tendência é a superexploração
dos recursos. Então, cedo ou tarde, a curva de crescimento tem que
desacelerar, acompanhando o ritmo da redução e/ou esgotamento dos
recursos. Afinal os recursos não crescem como a população e o
padrão de consumo. Em matéria do iG São Paulo (4) é destacado que
o PIB da China cresceu 6,9% em 2015, sendo a menor taxa de
crescimento desde 1990. Essa taxa, segunda a matéria, “ficou um
pouco abaixo do esperado pelo governo chinês”. Então é claro que
se espera sempre o crescimento. E talvez as menores taxas de
crescimento registradas recentemente para o país sejam sinais de que
os limites estão se aproximando.
Pode
ser isso que acontece com as culturas consumistas mais antigas, como
a norte-americana e a europeia. As nações desses dois continentes
nunca enfrentaram crises crônicas como a atual, na forma de uma
crise coletiva das nações. A China — e outros países, como o
Brasil — só estaria seguindo os mesmos passos, porém em ritmo
mais acelerado devido ao padrão de consumo atual, o tamanho da
população e a tecnologia disponível para exploração dos
recursos.
No
caso dos padrões de consumo mencionado acima, todos pensam que o
ideal é que o poder de consumo das pessoas “aumente”. Existe até
um indicador estatística para essa variável: Intensão de Consumo
das Famílias (ICF). E existe também, assim como a preocupação com
o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de uma nação, uma
preocupação com o crescimento desse índice e de como o Brasil, por
exemplo, está em relação a outros países (5). Portanto, a ideia
de crescimento esta profundamente enraizada na noção de
desenvolvimento e baliza o julgamento sobre o sucesso de um país na
busca pelo desenvolvimento.
Caso
os padrões econômicos e culturais atuais não mudem, a
desaceleração pode ser catastrófica, na forma de um colapso. Essa
percepção já inspirou diversas produções cinematográficas. Mas
não trata-se de teoria conspiracionista ou paranoia transformada em
boa estória. Existe respaldo científico para tal possibilidade, e
tem a ver com a “capacidade suporte” dos sistemas ecológicos.
Tem a ver também com o conceito de “sustentabilidade” tão
alardeado nos discursos políticos e nas mídias de massa, mas muito pouco compreendido. O renomado físico Stephen Hawking comenta
em entrevista à BBC que, através do progresso da ciência, o homem
cria “formas de as coisas darem errado” (6). Hawking fala sobre a
possibilidade de desastre em uma escala de tempo de mil ou dez mil
anos. Contudo, salienta que “não vamos conseguir estabelecer
colônias autossustentáveis no espaço nos próximos séculos, então
temos que ser muito cuidadosos neste período”.
Entretanto, a grande questão ecológica, e não física, não diz respeito de um possível desastre com a humanidade e da colonização do espaço. A grande questão é que até que algum desastre se configure, as coisas devem piorar gradativamente devido às mudanças climáticas e outros problemas ambientais. A consequência disso é a degradação da qualidade e aumento do custo de vida. Até onde se sabe, já ultrapassamos a capacidade suporte do planeta, como sugere matéria da Planeta Sustentável de 2010 (8). Já ultrapassamos o ponto de virada da curva de equilíbrio entre “crescimento” (do consumo, da economia e da população) da sociedade e a disponibilidade de recursos naturais para sustentar a humanidade. Por isso, é lógico esperar um arrefecimento da economia.
Voltando
um pouco mais longe no passado, desde a década de 60 até o período
atual, os problemas ambientais evoluíram de problemas locais, como o
lixo entupindo uma vala, passando pelas inversões térmicas nos
grande centros urbanos, as chuvas ácidas, até o que chamamos
atualmente de “mudanças globais”, que inclui não somente as
mudanças climáticas, mas muitas outras mudanças, como a degradação
sistemática dos solos no mundo inteiro e as novas epidemias, como o
zika virus (9) que se proliferam facilitadas pela grande densidade
populacional e a mobilidade das pessoas.
Porém,
junto com a abrangência dos problemas ambientais cresce a
complexidade dos mesmos, sendo os problemas atuais mais difíceis de
gerenciar e mais complicados de entender. Por isso, os métodos e
estratégias políticas e de gestão tradicionais não são mais
suficientes para lidar com as demandas atuais. Assim, muito
provavelmente a crise atual exige da mesma forma um novo nível de
compreensão e organização por parte dos agentes do poder e da
própria sociedade. Esse novo patamar de compreensão e organização
deve ser tão abrangente e estruturado como os problemas a serem
resolvidos. Nesse sentido Hawking alerta ainda que “é importante
garantir que estas mudanças estejam indo na direção certa. Em uma
sociedade democrática, isto significa que todos precisam ter uma
compreensão básica da ciência para tomar decisões esclarecidas
sobre o futuro”.
Ciberografia
(6) StephenHawking
prevê desastre provocado pelo homem e abandono da Terra. PorBBC
Brasil, 19/01/2016, 12:11, em iG – Último Segundo – Mundo
(7) Quatro cenários de 'fim do mundo' previstos por Stephen Hawking. Por BBC Brasil, 26/01/2016, 16:14, em iG - Último Segundo - Ciência
(8) JoséEustáquio Diniz Alves. A Terra no limite. 12/2010,EmAbril – Planeta Sustentável
(9) Parecepiada, mas é sério: conheça o zika vírus. Por Elioenai Paes –iG São Paulo, 26/05/2015, 05:00, em iG – Saúde – Minha Saúde
(7) Quatro cenários de 'fim do mundo' previstos por Stephen Hawking. Por BBC Brasil, 26/01/2016, 16:14, em iG - Último Segundo - Ciência
(8) JoséEustáquio Diniz Alves. A Terra no limite. 12/2010,EmAbril – Planeta Sustentável
(9) Parecepiada, mas é sério: conheça o zika vírus. Por Elioenai Paes –iG São Paulo, 26/05/2015, 05:00, em iG – Saúde – Minha Saúde
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