Ontem foi o dia da Terra. Comemorado desde 1970, o dia 22 de abril foi criado como marco da consciência ambiental do nosso planeta. A data foi criada a partir de um movimento nos Estados Unidos cuja pressão culminou na criação da Agencia de Proteção Ambiental ("Environmental Protection Agency") daquele país. Infelizmente só lembrei hoje da data... Mas, dado o atual contexto planetário, venho fixar um pouco mais a motivação da data.
No vídeo do Youtube linkado ao Doodle ontem o Google também homenageou a antropóloga britânica Jane Goodall (Valerie Jane Morris Goodall) que, no vídeo, deixa uma mensagem [1]. Quando começou a publicar seus trabalhos Jane Goodall não foi muita aceita pela comunidade científica porque não tinha formação acadêmica. Mas com o tempo seus estudos permitiram entender muito sobre o comportamento dos primatas e de nós mesmos, tornando-se importantes referências para as novas gerações de pesquisadores.
Segundo Tony Gerber (National Geographic), "uma jovem inglesa estuda chimpanzés na África e revoluciona a ciência dos primatas... apaixonada por animais, sem formação de pesquisadora, abriu caminho nos mundos masculinos da ciência e da mídia, fez descobertas fundamentais na sua área e se tornou um rosto mundialmente famoso do movimento conservacionista" [2]. Jane Goodall é, portanto, um nome emblemático no cenário da conservação da natureza, homenageado por uma das maiores empresas de tecnologia digital contemporânea numa data emblemática para o planeta. Essa homenagem simboliza de certa maneira a conexão entre dois mundos: o natural e o virtual. O primeiro tão esquecido e apartado do ser humano. O segundo tão presente no quotidiano de todos.
Mas, sobre o dia da Terra, a data não serve para pensarmos no planeta como um globo rochoso onde residimos e cultivamos nosso alimento. O planeta Terra, como disse o cientista e ambientalista britânica James Lovelock (James Ephraim Lovelock) é, na verdade, um grande "sistema vivo". E como tal, assim como nós e qualquer outro organismo, pode adoecer. Mas diferente de nós, que precisamos manter nossa constituição e organização mais ou menos constante para continuarmos vivos, o planeta -- Gaia, como denominado na teoria de Lovelock -- pode mudar de estado caso seus principais processo sofram grandes impactos. O novo estado é imprevisível, e pode ser benéfico ou prejudicial para muitas espécies, incluindo a nossa.
Nossa pegada na Terra já é tão profunda e marcante que inauguramos uma nova época geológica, denominada, segundo a Ciência, de "Antropoceno". Essa nova época vem sendo marcada pela transgressão de certos limites planetários, o que pode nos levar a mudanças irreversíveis nos processos e organização do planeta, da biosfera, como alerta o pesquisador do Centro de Resiliencia de Estocolmo (Stockholm Resilience Centre), na Suécia, Johan Rockström. Mas, ainda segundo Rockström, esse momento de grandes mudanças é também um momento de grandes oportunidades para a sociedade.
Por isso, pelo momento em que vivemos, lembrarmos do dia da Terra, lembrarmos da própria Terra, sairmos da nossa esfera quotidiana para percebermos e abraçarmos a biosfera em cada atitude do nosso dia-a-dia é talvez o que nos torna um pouco mais humanos. Nossa consciência deve ir além de nossas necessidades imediatas, tanto no tempo como no espaço, para percebermos nossa conexão com a Natureza, com a Biosfera.
[1] https://www.youtube.com/watch?time_continue=105&v=q8v9MvManKE
[2] https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/02/quem-e-jane-goodall