23 de abr. de 2018

O Dia da Terra no Antropoceno

Micropaisagem se desenvolvendo em um pedaço de tronco morto no Rincão Gaia, sede da Fundação Gaia, ONG fundada pelo importante ambientalista José Lutzenberger, que ficou internacionalmente conhecido por defender a teoria de Gaia, de James Lovelock. Na Natureza tudo é aproveitado, como esse fragmento de madeira, não existe lixo ou resíduo. Esse é o conceito tecnológico que devemos aprender com a Natureza para prosperar no Antropoceno (Foto: Leon Maximiliano Rodrigues, 23/10/2015).
Ontem foi o dia da Terra. Comemorado desde 1970, o dia 22 de abril foi criado como marco da consciência ambiental do nosso planeta. A data foi criada a partir de um movimento nos Estados Unidos cuja pressão culminou na criação da Agencia de Proteção Ambiental ("Environmental Protection Agency") daquele país. Infelizmente só lembrei hoje da data... Mas, dado o atual contexto planetário, venho fixar um pouco mais a motivação da data.
No vídeo do Youtube linkado ao Doodle ontem o Google também homenageou a antropóloga britânica Jane Goodall (Valerie Jane Morris Goodall) que, no vídeo, deixa uma mensagem [1]. Quando começou a publicar seus trabalhos Jane Goodall não foi muita aceita pela comunidade científica porque não tinha formação acadêmica. Mas com o tempo seus estudos permitiram entender muito sobre o comportamento dos primatas e de nós mesmos, tornando-se importantes referências para as novas gerações de pesquisadores.
Segundo Tony Gerber (National Geographic), "uma jovem inglesa estuda chimpanzés na África e revoluciona a ciência dos primatas... apaixonada por animais, sem formação de pesquisadora, abriu caminho nos mundos masculinos da ciência e da mídia, fez descobertas fundamentais na sua área e se tornou um rosto mundialmente famoso do movimento conservacionista" [2]. Jane Goodall é, portanto, um nome emblemático no cenário da conservação da natureza, homenageado por uma das maiores empresas de tecnologia digital contemporânea numa data emblemática para o planeta. Essa homenagem simboliza de certa maneira a conexão entre dois mundos: o natural e o virtual. O primeiro tão esquecido e apartado do ser humano. O segundo tão presente no quotidiano de todos.
Mas, sobre o dia da Terra, a data não serve para pensarmos no planeta como um globo rochoso onde residimos e cultivamos nosso alimento. O planeta Terra, como disse o cientista e ambientalista britânica James Lovelock (James Ephraim Lovelock) é, na verdade, um grande "sistema vivo". E como tal, assim como nós e qualquer outro organismo, pode adoecer. Mas diferente de nós, que precisamos manter nossa constituição e organização mais ou menos constante para continuarmos vivos, o planeta -- Gaia, como denominado na teoria de Lovelock -- pode mudar de estado caso seus principais processo sofram grandes impactos. O novo estado é imprevisível, e pode ser benéfico ou prejudicial para muitas espécies, incluindo a nossa.
Nossa pegada na Terra já é tão profunda e marcante que inauguramos uma nova época geológica, denominada, segundo a Ciência, de "Antropoceno". Essa nova época vem sendo marcada pela transgressão de certos limites planetários, o que pode nos levar a mudanças irreversíveis nos processos e organização do planeta, da biosfera, como alerta o pesquisador do Centro de Resiliencia de Estocolmo (Stockholm Resilience Centre), na Suécia, Johan Rockström. Mas, ainda segundo Rockström, esse momento de grandes mudanças é também um momento de grandes oportunidades para a sociedade.
Por isso, pelo momento em que vivemos, lembrarmos do dia da Terra, lembrarmos da própria Terra, sairmos da nossa esfera quotidiana para percebermos e abraçarmos a biosfera em cada atitude do nosso dia-a-dia é talvez o que nos torna um pouco mais humanos. Nossa consciência deve ir além de nossas necessidades imediatas, tanto no tempo como no espaço, para percebermos nossa conexão com a Natureza, com a Biosfera.

[1] https://www.youtube.com/watch?time_continue=105&v=q8v9MvManKE
[2] https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/02/quem-e-jane-goodall

Nenhum comentário:

Postar um comentário