8 de mai. de 2020

Por que Fazer Divulgação Científica?

Explorando as fronteiras planetárias. Arte por: Leon Maximiliano Rodrigues

Através deste blog (e canal homônimo) venho compartilhar onteúdos sobre meio ambiente, sustentabilidade, ecologia e outros assuntos relacionados. E para falar sobres estes temas, precisamos falar também sobre “ciência”. Afinal, o “meio ambiente” é formado por tudo o que está à nossa volta e que de alguma maneira afeta nossa vida.

Parece óbvio. Mas, pense bem. Para podermos entender sobre meio ambiente e ecologia precisamos ir bem além de onde os 5 sentidos humanos podem alcançar. Ou seja, precisamos potencializar nossos sentidos e o alcance de nossa percepção para escalas espaciais mais amplas, como fazemos, por exemplo, com um telescópio, e escalas mais reduzidas como fazemos, por exemplo, com um microscópio.

Também precisamos entender sobre escalas tempo diferentes, como fenômenos que ocorrem muito rapidamente, como fazemos com o uso de radares para estudar descargas elétricas de um raio em uma tempestade, ou fenômenos que ocorrem em escala de tempo muito longas, como os fenômenos geológicos ou as glaciações, etc.

Há ainda uma terceira categoria de escala que só mais recentemente se tornou uma preocupação recorrente na ciência. Trata-se do nível de organização de um sistema. Nesse sentido, precisamos conseguir entender níveis de complexidade cada vez maior para podermos explicar os problemas ambientais que também aumentam em abrangência e complexidade na medida em que a degradação do planeta se agrava.

E isso só tem sido possível graças aos avanços tecnológicos, que tem nos permitido implementar sistemas de amostragem e coleta e análise de dados complexos, assim como analisar características físicas, químicas e biológicas dos sistemas vivos (e não-vivos) que até bem pouco tempo atrás — estamos falando de décadas — não eram possíveis. Esse é o caso dos grandes avanços nos estudos sobre o funcionamento da mente, os estudos sobre os ecossistemas e a biosfera e, mais recentemente, o que vem sendo denominado de “Astrobiologia”, que é o estudo da vida ou, mais precisamente, considerando o atual estado da arte, a possibilidade dela fora da terra.

E o único caminho que a humanidade encontrou para conseguir essa amplificação do nosso sistema sensorial e nossa mente foi através dos “sentidos” da Ciência. Através do método científico conseguimos avanços tecnológicos importantes para a humanidade. E hoje nos tornamos uma sociedade totalmente dependente da ciência para tudo o que fazemos. E virtualmente não há como voltar atrás.

Por isso, a ciência tornou-se conteúdo indispensável na educação formal e informal das pessoas. Não é por acaso que tanto a mídia tradicional como as novas mídias interativas apresentam um amplo cardápio de conteúdos que de alguma maneira falam sobre ciência. De fato há muitos canais, páginas e sites “distribuindo” informações sobre ciência. Contudo, raramente vemos a ciência sendo divulgada com a intenção de informar suas descobertas visando construir com o debate necessário na sociedade para viabilizar sua aplicação construtiva.

O resultado é que raramente o conhecimento científico é usado como ferramenta útil para informar sobre a realidade ou responder questões relevantes. E quando isso acontece, é quase sempre feito de forma precária e frequentemente tendenciosa. Há sempre uma dificuldade das pessoas enxergar as aplicações da ciência em suas realidades.

Porém, o fato de que vivemos numa sociedade cada vez mais dependente da Ciência para todas as suas tarefas implica que o cidadão precisa entender a ciência. E quem não for minimamente alfabetizado em ciência tenderá a ser cada vez mais excluído. Em outras palavras, terá dificuldades em ter acesso àquilo que nos permite viver com uma qualidade de vida melhor no mundo atual.

Além disso, boa parte da informação científica não é transmitida de forma completa ou clara. Isso pode ocorrer por falta de preparo de quem escreve uma matéria ou um roteiro ou intencionalmente, por várias razões, sejam elas políticas, comerciais, etc. Isso é chamado frequentemente de desinformação. Nesse caso, quais filtros o autor usou? E por que?

Informações incompletas podem ser mal interpretadas. Uma informação solta, isolada, sem contexto, pode ser usada de forma tendenciosa. Esse é o caso, por exemplo, da atual pandemia. Em alguns países, como no caso do Brasil e Estados Unidos, os respectivos governos minimizaram a gravidade do problema e argumentaram que bastaria o isolamento vertical, que significa tomar as medidas extremas de isolamento somente para os grupos de risco (idosos, hipertensos, asmáticos, etc.).

É claro que existem grupos de risco, que abrangem as pessoas mais vulneráveis à doença. Mas, esta informação por si só não é suficiente para embasar uma decisão. Existir um grupo de risco não significa dizer que são as únicas pessoas suscetíveis a serem infectadas pelo SARS-CoV-2. E as pessoas que não são do grupo de risco podem contaminar aquelas do grupo de risco. E isso é obviamente esperado uma vez que, por exemplo, um idoso normalmente recebe cuidados de um adulto ou jovem. Simplesmente não é possível isolar totalmente essas pessoas.

E foi por isso que diversos países que adotaram inicialmente o isolamento vertical, como os Estados Unidos, a Itália, a Suécia, a Holanda, dentre outros, voltaram atrás. Estes países tiveram, inclusive, que adotar medidas extremas de isolamento porque a doença se alastrou muito rapidamente sem um forte isolamento social no início.

Colocar na rua a população que não é de risco significa manter o fluxo de pessoas ativas (adultos e jovens) normal. Em outras palavras, muda muito pouco em termos de isolamento social.

Esse tipo de desinformação é relativamente comum e, como no caso da pandemia, pode ter consequências irreparáveis. Por isso, o trabalho de “divulgação científica” é importante para fazer a ponte entre as descobertas científicas e a sociedade. E é fundamental que aqueles que pretendem divulgar o conhecimento científico não atuem como meros reprodutores de informações. Isso é bastante comum — quase uma regra — nos conteúdos que trazem informações científicas nas mídias em geral. É o que chamamos de Ciência “Gee Whiz” — falaremos sobre isso em outro texto.

Há quase sempre uma busca por formatos que causem espanto, surpresa ou encantamento ao ingênuo, em particular sobre novas tecnologias. Bom... Causar esse tipo de impacto é bom, pois precisamos atrair de alguma forma a atenção das pessoas. Mas, quase nunca vemos um conteúdo científico sendo transmitido de forma crítica e contextualizada.

Isso faz com que a Ciência se torne muito mais um objeto de entretenimento ou instrumento de manipulação do que uma ferramenta para  o desenvolvimento humano e social no planeta. Nesse sentido, quando encontramos um conteúdo sobre ciência e tecnologia, algumas perguntas fundamentais deveriam ser feitas, como: Quais os impactos do conhecimento ou tecnologia ao ser aplicado? Como um novo conhecimento afeta nossas vidas? Quem será beneficiado e quem será prejudicado?

Quero dizer que o conhecimento por si só não é mais que uma matéria bruta, que carece de significado. Para que seja útil à sociedade precisa passar pela lapidação da crítica social, da avaliação ética e técnica de seus benefícios e prejuízos para a sociedades, as pessoas e o meio ambiente.

Porém, há um grande desafio a ser superado. Por um lado, a ciência avança cada vez mais rápido e a quantidade de conhecimento produzida aumenta de forma esmagadora. Por outro lado, a cultura da sociedade não evolui na mesma velocidade e intensidade. O resultado desse descompasso é um abismo cada vez maior entre ciência e a sociedade. E uma incapacidade cada vez maior da sociedade incorporar as novas tecnologias e conhecimentos de forma eficiente, produtiva e construtiva, prevalecendo frequentemente critérios econômicos ou de poder nas decisões que afetam as aplicações da ciência.

Como consequência, a sociedade vem acumulando um passivo gigante em termos dos efeitos colaterais negativos das tecnologias e sistemas decisórios sobre o ambiente humano e natural, a saúde humana, a economia real e o planeta onde vivemos. Esse passivo se traduz na convergência atual das diversas crises globais: mudanças climáticas, crise da economia global, crise da política e das relações internacionais e mais recentemente a crise da COVID-19 — estes são assuntos para outros textos.

Por isso, precisamos cada vez mais de veículos e pessoas dedicadas a traduzir e transmitir o conhecimento científico ao público em geral, assim como programas que incorporem a ciência como disciplina transversal na educação formal e informal. Isso é necessário para que a sociedade incorpore a ciência na cultura e modus operandi e seja instrumentada com os filtros adequados para receber o que as indústrias e governos tentam lhes oferecer. E isso deve ser feito da forma mais digestiva e crítica possível.

Como não dá para esperar que todo mundo faça uma pesquisa cuidadosa para verificar a credibilidade e a veracidade das informações o tempo todo. E como o sistema educacional ainda não oferece uma alfabetização científica adequada, canais de “divulgação científica” ou que incluam a “divulgação científica” em seus conteúdos, além de outros meios de comunicação, podem contribuir para essa tarefa.

Por isso, com a intenção de dar minha pequena contribuição para este grande processo, trago um blog (e canal) de “divulgação científica”, buscando oferecer conteúdos que de alguma forma contribuam para a conexão entre Ciência a Sociedade.

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