9 de out. de 2014

Interesse e Curiosidade, a Chave para Uma Educação Eficiente

Um tema bastante discutido há muito tempo, mas sempre distante da realidade do processo de educação agora conta com evidências científicas. “Aprendemos melhor quando temos interesse”, e esse deveria ser um dos princípios orientadores mais importantes da educação em todas as fases da vida.
A theme much discussed long time, but always distant from the reality of the education process now has scientific evidence. "We learn best when we are interest," and this should be one of the most important guiding principles of education at all stages of life.
Uma pesquisa publicada por Matthias J. Gruber e colaboradores na revista Neuron (2014) trás fortes evidências da relação da aprendizagem com a curiosidade. Veja abaixo o comentário sobre o estudo publicado recentemente na revista Nature (seguem os links para o comentário e artigo no final da postagem).
A survey published by Matthias J. Gruber and colleagues in Neuron (2014) magazine offers strong evidence of the relationship of learning with curiosity. See below the comment on the study recently published in Nature (follow the links at the end for the comment and article).


Como a Curiosidade Melhora a Aprendizagem
How Curiosity Enhances Learning

Dunas de areia clara com areia escura na superfície de Marte em imagem obtida pela sonda espacial Mars Reconnaissance Orbiter (MRO). (Fonte: Folha de São paulo). "A curiosidade levou os cientístas (e a ciência) a transcender as fronteiras no nossos sistema planetário, e tem levado nossa percepção cada vez mais longe".


A curiosidade aumenta a capacidade das pessoas de aprender e reter novas informações, graças a centros de recompensa e de memória chaves no cérebro.

Curiosity boosts people’s ability to learn and retain new information, thanks to key reward and memory centres in the brain.

Matthias Gruber e seus colegas da Universidade da Califórnia (Davis, CA) pediu a voluntários para avaliar seu nível de curiosidade para uma série de questões triviais, e então escaneou seus cérebros enquanto ouviram as perguntas e esperaram pelas respostas.

Matthias Gruber and his colleagues at the University of California, Davis asked volunteers to rate their level of curiosity for a series of trivia questions, and then scanned their brains as they saw the questions and waited for the answers.

No caso de questões sobre as quais eles estavam curiosos, os participantes lembraram melhor de respostas do que para questões sobre as quais eles estavam menos interessados​​. Os escâneres do cérebro mostraram aumento de atividade durante este aprendizado em regiões responsáveis por recompensas e regulam a formação da memória, e revelou elevada conectividade entre as duas regiões.

For questions that they were curious about, participants remembered answers better than for questions in which they were less interested. Brain scans showed increased activity during this learning in regions that respond to reward and regulate memory formation, and revealed heightened connectivity between the two regions.

Foram mostrados rostos alheios aos voluntários enquanto aguardavam as respostas triviais, e eram melhores em aprender as faces quando sua curiosidade era despertada. Isto sugere que a curiosidade também contribui com a aprendizagem de informação incidental.


The volunteers were shown unrelated faces while they waited for the trivia answers, and were better at learning those faces when their curiosity was aroused. This suggests that curiosity also helps with the learning of incidental information.


Comentário da Naturei:

Artigo original:
Neuron http://doi.org/v6m (2014)

20 de mar. de 2014

Um Caos Elegante


Há poucas teorias universais na ecologia e são distantes entre si, mas é isso que a torna fascinante.

Fonte: LOVEintheSNOW
Um dos textos do editorial da revista Nature desse ano comenta sobre um debate interessante sobre o estudo de sistemas ecológicos. E ao contrário do que muitos pensam, a Ecologia é apresentada no texto, semelhante a outras grandes áreas do conhecimento, como uma ciência da complexidade. Mas, diferente dos campos mais notórios das ciências naturais, talvez o caminho para estudar ecologia não seja necessariamente a busca por padrões ou leis abrangentes, mas a compreensão do funcionamento único de cada ecossistema. O texto segue em tradução não totalmente literal, e pode conter alguns erros, sem prejudicar a compreensão.

Para alguns cientistas em outros campos, a ecologia deve parecer relativamente simples. Muitos dos organismos vivem em uma escala muito humana e são de fácil acesso, especialmente em ecologia de comunidades. Os ecólogos não precisam de equipamentos especiais para ver e contar alces. Não há microscópios eletrônicos, telescópios espaciais ou sondas de perfuração que podem dar errado. É fácil.

No entanto, os ecólogos sabem que seu objeto pode ser tão problemático como qualquer outro. A Ecologia poderia ser fácil, se não fosse por todos os ecossistemas – vastamente complexos e variáveis como são. Até mesmo o deserto mais austero ou o pântano aparentemente menos inexpressivo é uma rede intricada e densa de milhares de espécies fotossintetizadoras, predadores, animais presas, parasitas, detritívoros e decompositores. Como o naturalista E. O. Wilson colocou: “Uma vida inteira pode ser gasta em uma viagem de Magalhães em torno do tronco de uma árvore.” E nem tudo o que se pode aprender a partir de tal viagem seria transferido para a próxima árvore. História, acaso, clima, geologia e – cada vez mais – atividades humanas fazem com que não haja dois ecossistemas que funcionem da mesma maneira.

Os cientistas gostam de impor ordem e estrutura no caos, e os ecólogos não são diferentes. A Ecologia tem suas grandes teorias, mas elas estão repletas de cláusulas condicionais, ressalvas e exceções. Há padrões claros em escalas globais e de uma única espécie, mas o meio termo é, como o biólogo John Lawton colocou afetuosamente in 1999, “uma confusão”. É duvidoso que as generalidades que fundamentam os padrões complexos da natureza serão sempre formuladas de maneira sucinta o suficiente para ajustar-se a um molde.

Esta complexidade é demonstrada pelo trabalho que questiona uma famosa e elegante ‘cascata trófica’ no Parque Nacional Yellowstone, Wyoming (EUA) (discutido na pág. 158 desta edição da Nature). A teoria diz que os lobos, reintroduzidos no parque nos anos 1990 após décadas de ausência, expulsam os alces para longe de certas áreas. Isso tem um efeito dominó para o resto da cadeia alimentar, permitindo o florescimento da faia preta e o salgueiro após décadas sendo pastejadas quase até à morte. Mas estudos em anos recentes sugerem que os lobos sozinhos não controlam o ecossistema. Outros fatores – a presença de represas de castores e ursos pardos, meteorologia, caça por humanos e até mesmo mudanças climáticas – também afetam a população de alces e o crescimento de árvores e arbustos.

Seria útil ter padrões gerais e comuns em Ecologia. Saber como os ecossistemas vão responder às mudanças climáticas, ou ser capaz de prever as consequências da introdução ou reintrodução de uma espécie, tornaria a conservação mais efetiva e eficiente. Mas, uma teoria unificada para tudo não é o único meio para adquirir conhecimento.

Mais ecólogos devem abraçar o lado não preditivo da sua ciência. Desvendar o que está acontecendo em sistemas complexos pela observação de como ecossistemas evoluíram e pela manipulação do ambiente em experimentos, é uma ciência tanto quanto a criação de fórmulas para descrever como ecossistemas trabalham.

Mudanças de paradigmas, afinal, são raras em Ecologia. Os debates são frequentemente resolvidos quando conceitos concorrentes combinam, e não quando um empurra o outro completamente para fora da mesa. Considere as idéias contrastantes de regulação ‘top down’ dos ecossistemas por carnívoros e a regulação ‘bottom up’ pela nutrição disponível a partir de plantas. Há um trabalho lento na direção de uma teoria integrada para prever quando o ‘topo’ vai governar e quando a ‘base’ será responsável – e esta teoria vai levar algum tempo para considerar os jogadores do meio, os herbívoros.

Outros debates ecológicos tem seguido um caminho similar. A discordância sobre se os ecossistemas complexos são mais ou menos estáveis que os mais simples, por exemplo, também está se acomodando em um consenso: depende.

Predições práticas úteis não precisam derivar de leis universais. Em vez disso, podem vir de um conhecimento profundo do funcionamento único de cada ecossistema – conhecimento adquirido pela observação e análise. Existem propostas de teorias abrangentes, mas se os ecólogos querem produzir trabalho útil para a conservação, podem fazer melhor ao passar seus dias sentados calmamente em ecossistemas com seus cadernos impermeáveis ​​e lentes de mão, escrevendo tudo.

A complexidade ecológica, a qual pode parecer como um emaranhado de detalhes impenetrável, é a fonte de grande parte de nosso prazer na natureza. Se os ecossistemas fossem quebra-cabeças simples que trabalham todos da mesma maneira, perderiam muito de seu mistério, surpresa e beleza. Muitos trabalhos de conservação visam proteger a complexidade e variabilidade que tornam os ecossistemas tão difíceis de se entender e, de fato, de conservar.

As regulamentações ecológicas não são as únicas razões para promover a conservação e combater as extinções. Às vezes podemos argumentar para a conservação de uma espécie particular porque a ecologia fornece uma base científica para isso. Outras vezes, construímos o argumento porque há uma boa chance de que a Ecologia logo irá alcançar e explicar porque as espécies são importantes.

Mas, mesmo que alguns predadores façam pouco ao se assentarem no topo de suas pirâmides alimentares, selecionando alguns herbívoros, realmente queremos viver em um mundo sem eles? Responder a essa pergunta é realmente fácil.

Texto original em: Nature. Editorial, v. 507, n. 7491, p. 139-140, 13 March 2014, doi:10.1038/507139b. Disponível em: <http://www.nature.com/news/an-elegant-chaos-1.14849>; Acessado em: 20/03/2014.

Tradução: Leon maximiliano Rodrigues