Fonte: CULTURAMIX.COM |
Entretanto, a
concepção popular que o termo vem adquirindo é bem confusa e existe uma
distorção em relação ao significado real da palavra. Além disso, há muita
dificuldade das instituições e das próprias pessoas de enquadrar corretamente
algo como “ecológico” ou “não-ecológico”.
Primeiro, o
significado de palavra vem de um ramo das Ciências Naturais, desenvolvido
inicialmente como um ramo da Biologia. A ciência “Ecologia” é o estudo das
interações entre os diferentes componentes bióticos (seres vivos) e abióticos
(clima, relevo, solos, etc.) que formam os ecossistemas. Assim quando uma
alteração é causada num dado ecossistema, acaba afetando, por um “efeito cascata”
― como uma reação em cadeia ―, afetando direta ou indiretamente todos os
componentes do ecossistema. Daí a noção de impacto ambiental. Ou seja, quando
as atividades do ser humano produzem alterações no ambiente de um ecossistema,
tais alterações repercutem na estrutura do ecossistema, afetando os seres vivos
e os processos do ecossistema.
Numa concepção
mais ampla, podemos incluir o ser humano na paisagem ecológica. Assim, as ações
humanas passam a fazer parte da ecologia dos ecossistemas. Nessa concepção
todas as ações humanas são ecológicas. Mas, considerando a concepção em que os
ecossistemas são formados pelos elementos naturais ― não incluindo os elementos
artificiais produzidos pelo homem ―, o que seria considerado ecológico nas
atividades humanas? De fato nada! Pois se os seres humanos não são considerados
como parte dos ecossistemas naturais, o que eles fazem não faz parte da
ecologia dos ecossistemas, portanto não é ecológico.
Parece que a
noção popular de algo ecológico tem a ver com o tipo de efeito sobre os
ecossistemas e os seres vivos. Quando uma atividade produz efeitos positivos
sobre os ecossistemas e suas espécies, diz que “é ecológico”. Quando os efeitos
são negativos, diz-se que “não é ecológico”. Todavia, alguma coisa é ecológica
independentemente de causar efeitos positivos ou negativos. Por exemplo, quando
um predador (p. ex. uma onça) abate uma presa (p. ex. uma capivara), gera
efeitos negativos na população de capivaras. Mesmo assim, a predação (onça
comendo a capivara) é uma ação ecológico.
De qualquer
forma, aceitemos que existem duas aplicações amplas para o termo ecológico: uma
científica, independente dos efeitos negativos ou positivos, e outra popular,
relacionada mais á questão “ambiental” e aos efeitos das ações humanas sobre a
natureza. Mesmo aceitando essa segunda aplicação do termo, existe grande
dificuldade de enquadrar uma atividade no que se refere a “ser ou não ser
ecológico”.
Um bom exemplo
é o suposto “eco-tijolo” (p. ex. http://www.ecol-tijolo.eco.br/),
que são fabricados a partir de uma mistura de solo e cimento, que é submetida à
alta pressão (Fig. 1). Note que no exemplo usado para ilustrar ocorre o uso de óleo diesel para o funcionamento da máquina de prensagem. Além disso, o processo de reação da liga libera alguns gases perigosos (Fig. 1).
Figura 1. Fluxograma do inventário do subsistema de vedação de blocos de solo-cimento (Fonte: EcoMáquinas). |
O argumento em favor do eco-tijolo seria o de que não usa nenhuma energia proveniente da degradação ambiental. Porém, a produção do cimento usado na liga resulta de um processo complexo que gera diferentes tipos de poluição, incluindo ruídos, material particulado, calor, gases estufa (dióxido de carbono − CO2, dióxido de enxofre − SO2), gases tóxicos (monóxido de carbono − CO, óxidos nitrogenados) e metais pesados (compostos de chumbo) (Fig. 2).
Figura 2. Esquema do processo de produção de cimento destacando os principais tipos de poluição gerados (Fonte: Estevez et al. (sem ano)). |
Nesse caso, a
fabricação o “eco-tijolo” não gera resíduos sólidos, mas gera gases. E o processo de prensagem
demanda energia, normalmente produzida numa hidrelétrica ou termelétrica, que
gera impactos ambientais, ou o uso de combustível nem sempre de origem biológica. Além disso, o cimento usado na fabricação gera impactos
e esses devem ser incluídos na avaliação do produto final. Se a empresa inclui
o cimento na produção, automaticamente está estimulando a produção de cimento.
Assim, se reduz os impactos por um lado, aumenta por outro.
Equívocos como
esse são mais comuns do que se pensa. É o caso da reciclagem de certos
materiais, como o PET. Ao reciclar uma garrafa PETt, não será produzida outra
garrafa, pois o material resultado do processamento é de menor qualidade e
servirá para outras finalidades, como produção de cerdas para vassouras. É
claro que a “reciclagem”, nesse caso, gera uma redução da necessidade de mais
matéria prima para produzir cerdas de vassoura ou outros produtos. Mas é
evidente que em algum momento não será possível “reciclar”, pois a cada ciclo a
qualidade do material é perdida. Há portanto um ganho em termos de eficiência,
mas não há a eliminação total dos resíduos e impactos.
Além disso, o
próprio termo “reciclar” é mal empregado no caso do PET. Como a matéria prima
não será usada no mesmo processo ou ciclo, como no caso do alumínio e do vidro,
não trata-se de uma ‘re’ciclagem. Ocorre, na verdade, uma aproveitamento dos resíduos de outro processo, o que, até certo ponto, é mais benéfico do que descartar após o
primeiro uso (garrafa PET).
Essas questões
são triviais, mas são suma importância para mostram como ainda precisamos
aprender muito sobre as questões ambientais para atuarmos como cidadãos críticos e
participar ativamente na construção de uma sociedade mais sustentável, algo
ainda muito distante de nossa realidade.
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